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As dualidades em "Fleabag"

  • Foto do escritor: Deborah Dietrich
    Deborah Dietrich
  • 8 de abr. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 6 de mai. de 2021




É recorrente na Linguística a constatação de que o único falante capaz de ter produzido um discurso original teria sido Adão. Todas as narrativas que surgiram depois do primeiro homem do mundo foram transgredidas sucessivamente por pensamentos anteriores, tornando-se possível afirmar que não há nenhuma originalidade nas abordagens atuais. Todavia, em apenas três anos, Phoebe Waller-Bridge parece ter reestruturado todas as histórias convencionais sobre o amor.

Produzida pela Amazon em parceria com a BBC, Fleabag é uma série de comédia dramática, escrita e estrelada por Phoebe Waller-Bridge. Recebendo aclamação da crítica nas duas temporadas, Fleabag foi a maior vencedora da 71ª edição do Emmy em 2020, sendo considerada como uma das séries mais premiadas de todos os tempos.

A série apresenta a vida de uma mulher de 33 anos que não tem seu nome revelado: é apenas uma mulher. O meio em que a narrativa é desenvolvida parte do pressuposto implícito da dualidade humana. Inicialmente, a quebra da quarta parede possibilita que a personagem faça comentários sobre as suas opiniões e seus sentimentos no decorrer da sua trajetória diária, entre uma cafeteria falida, um namoro deprimente e um vazio existencial infindável.

Outro aspecto dual é a sua relação do sagrado e do profano. Ao mesmo tempo que esbanja dos prazeres carnais e se reafirma como ateia em diversas cenas, a protagonista é vinculada ao meio religioso ao se apaixonar - sarcasticamente - por um padre.

A ironia de uma paixão em condições tão díspares faz com que o espectador reflita sobre a tenuidade das idealizações de amor. A personagem se encontra em uma esfera de particularidade com o padre jamais atingida anteriormente: somente ele foi capaz de perceber as pausas seguidas das conversas da protagonista durante a quebra da quarta parede. Assim, a sua rotina cíclica de encontros frustrantes é bruscamente afetada: se reinicia em um amor verdadeiramente companheiro.

É nesse contexto que Phoebe Waller-Bridge dá início a uma narrativa amorosa que, impulsionada por desejos, se encerra por uma justificativa estoica. Entre as decepções do mundo real e a predominância do pessimismo no decorrer de toda a sua trajetória, ambos percebem que a relação é insustentável.

A última cena da série é classicamente relembrada pelo diálogo da protagonista com o padre que, logo após confessar que o amava, é respondida com “isso vai passar”. O desfecho de Fleabag retorna mais uma vez à dualidade, ao encerrar uma narrativa amorosa moldada por emoções por uma perspectiva típica do estoicismo, conseguindo distinguir os sentimentos supérfluos da realidade concreta.



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