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“Bom Dia, Verônica” chama atenção para violência doméstica e feminicídio

  • Foto do escritor: Letícia Anacleto
    Letícia Anacleto
  • 6 de mai. de 2021
  • 4 min de leitura

"Bom dia, Verônica" (2020)

Lançada em 2020 na plataforma da Netflix, a série “Bom dia, Verônica” é baseada no livro homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes. A produção chama atenção por mostrar o dia a dia de um relacionamento abusivo e da violência doméstica sofrida pela personagem Janete, por parte de seu marido, Cláudio Brandão. A temática é muito importante pois retrata situações reais que também acontecem fora das telas.

Por conta da pandemia de Covid-19, os dados apontam que a violência doméstica e o feminicídio aumentaram consideravelmente. De acordo com o especial “Um Vírus e Duas Guerras”, uma parceria do Projeto Colabora entre sete veículos de jornalismo independente, que visa monitorar a evolução da violência contra a mulher durante a pandemia, 1.005 mulheres foram vítimas de feminicídio durante o ano de 2020 no Brasil, totalizando uma média de três mortes por dia.

Com a chegada do coronavírus, o monitoramento das violências e feminicídios foi dificultado, principalmente em locais mais sensibilizados, como áreas rurais, aldeias e favelas. Segundo pesquisa do Colabora, a ausência de estatísticas com recorte de territorialidade é um problema estrutural dos dados nacionais sobre violência doméstica contra a mulher no Brasil.


Formas de violência


Na série, a personagem Janete sofre diversos tipos de agressão, para além da física. A mulher constantemente é agredida e ameaçada, abusada e não tem liberdade financeira, de ver sua família e, nem mesmo, de andar na rua. Com isso, no Capítulo II, do art. 7º da Lei Maria da Penha, estão previstos cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Segundo a lei, a violência física pode ser entendida como “qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher”, como, por exemplo, espancamento, estrangulamento ou sufocamento, ferimento causados por objetos cortantes, queimaduras ou armas, atirar objetos e tortura.

A psicológica é qualquer ação que cause “dano emocional e diminuição da autoestima, prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões”. Pode-se entender ameaças, humilhações, isolamento, chantagens e ridicularizações como formas desta violência.

“Qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força” é considerada como violência sexual. Dentro desse aspecto podem acontecer situações como estupro, impedir o uso de métodos contraceptivos ou forçar a mulher a abortar e obrigar a vítima a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa.

Outras ações, entendidas como violência patrimonial, dizem respeito a retenção, subtração e destruição de objetos, bens e recursos econômicos da mulher. Controlar o dinheiro, deixar de pagar pensão alimentícia, causar danos propositais a objetos e destruir documentos pessoais da mulher, são ações que configuram essa forma de violência.

Por fim, qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria são violências morais. Assim, a lei prevê que, a mulher que é acusada de traição, criticada de forma mentirosa, tem sua vida íntima exposta e é rebaixada por meio de xingamentos e pelo modo de se vestir, vivencia esta forma de agressão moral.

Para a procuradora de justiça do Rio de Janeiro e dona de um perfil no instagram voltado para assuntos de violência doméstica, Carla Araujo, a violência psicológica costuma ser a porta de entrada para o relacionamento abusivo e para as outras formas de agressão. “O abuso se trata de pequenas humilhações, de uma piada, de um controle, às vezes um tratamento de silêncio, uma sujeição da mulher às vontades do agressor. Então a violência física acontece depois de um tempo, mas a psicológica está desde o início”, explica Carla.


O perfil do agressor e a vítima silenciosa

“Bom dia, Verônica” é capaz de passar o perfil claro de um agressor por meio de Brandão. O policial militar consegue enganar todos a sua volta fingindo ser um bom marido. Assim como na série, é muito comum que na vida real o abusador seja alguém da família ou que tenha uma relação íntima de afeto com a mulher, como maridos e ex-maridos, namorados e ex-namorados ou companheiros.

Por conta disso, segundo Carla, “a violência doméstica tem essa característica de ser dentro de casa, dentro do ambiente, dentro da casa da mulher”. O ambiente se torna propício às agressões, facilita os atos do homem e dificulta que alguém testemunhe a situação e denuncie da forma devida.

Enquanto isso, a vítima geralmente é silenciosa, pois tende a não contar a situação vivida para ninguém, seja por vergonha ou por medo. Outra característica que impede a comunicação da mulher é o isolamento. “A mulher se vê afastada da sua rede de apoio, às vezes dos seus familiares e amigos, então o isolamento é uma das características e que acaba deixando a mulher mais vulnerável”, comenta a procuradora de justiça.


“Já parou para pensar o quanto, para muita gente, continuar existindo, por si só, já é resistir?” - Bom dia, Verônica.

O feminicídio e o patriarcado


No final da série, o resultado da violência doméstica foi o feminicídio, o assassinato de uma mulher por menosprezo e subjugação da condição feminina. Os motivos mais comuns para este tipo de crime são o ódio, o desprezo ou o sentimento de perda do controle e da propriedade sobre a mulher. A personagem Janete é queimada viva por despertar uma fúria em seu marido ao agir de forma que o agressor não permitia e, muito menos, previa.

Em uma sociedade patriarcal, os homens detêm o poder do qual as mulheres, em grande parte, são excluídas. O machismo dentro dessa estrutura social, naturaliza comportamentos problemáticos e repressivos de homens e associa papéis discriminatórios ao feminino, tornando crimes, como o feminicídio, muito comuns.

O ápice da violência é a morte da mulher por meio do feminicídio. Carla aponta que “o feminicídio é uma morte anunciada porque normalmente acontece dentro de casa e a gente sabe quem é o autor: é aquele agressor que já vem numa escalada de violência”. Por isso, é importante que as pessoas busquem conhecimento, na tentativa de evitar casos fatais como o de “Bom dia, Verônica”.

Para uma conscientização efetiva da sociedade no combate à violência doméstica e ao feminicídio, é preciso combater comportamentos machistas da cultura patriarcal e do estupro. “Isso só se faz com educação e informação. A gente tem que dar para as mulheres conhecimento de seus direitos, da lei Maria da Penha, como faz para denunciar, que elas têm direito a medida protetiva…”, finaliza a procuradora de justiça.



Central de Atendimento à Mulher – LIGUE 180


Conheça a Lei Maria da Penha: https://www.institutomariadapenha.org.br/lei-11340/resumo-da-lei-maria-da-penha.html




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